ANÁLISE DE ATIVIDADE DIDÁTICA SOB A ÓTICA DO LETRAMENTO VISUAL.
Este trabalho tem como
objetivo analisar o letramento visual em uma proposta didática de ensino. O
interesse em fazer essa análise parte de um olhar atento para a forma como é
trabalhado, em sala de aula, a letramento visual a partir de um cartum
recortado do livro Português: linguagens,
8º ano (2016), dos autores William
Roberto Cereja e Thereza Cochar Magalhães. A partir disso, iremos
nos deter a responder o seguinte questionamento: Qual o papel do letramento
visual para o desenvolvimento do sujeito aluno no espaço em que se insere?
Figura (01): imagem do Cartum
Fonte: CEREJA,
William Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens, 8º ano.
8.ed. reform. São Paulo: Atual, 2014. P. 216.
Sabemos que a imagem está
presente nos diferentes espaços em que circundamos, emitindo significados tanto
quanto a linguagem verbal. Desse modo, o visual, olhando para a sua capacidade
de significar, possibilita diferentes formas de interação. Para Fernandes e
Almeida (2008), as imagens (re) produzem as relações sociais dentro do espaço
social, posto que elas comunicam ações e possibilitam interações entre os
interlocutores. Nesse sentido, entendemos a imagem como um meio pelo qual se
pode ilustrar, narrar fatos observados e vivenciados no nosso cotidiano.
Em vista disso, Amaral e
Fischer em seu artigo intitulado Abordagem
da imagem em um livro didático voltado para alfabetização: perspectivas de
letramento visual / An Approach toImages in a Literacy Textbook: Perspectives
on Visual Literacy, apontam que é importante trabalhar no ensino atividades
que envolvam o letramento visual, de modo que desenvolva no aluno a capacidade
de significar as imagens a partir da relação que esta tem com o seu contexto. Nesse sentido, ao se trabalhar essa
capacidade, dá possibilidade ao aluno enxergar o seu meio e agir nele de forma
que possa, por meio desse agir, transformar a sua realidade.
Nessa perspectiva, observando
o cartum da figura (01) que é utilizado pelo professor como um recurso
pedagógico de ensino, é possível de notar a abordagem explicita do que se
pretende com o cartum ao observar os elementos linguísticos dispostos neste
tipo de texto, no caso a imagem. Os elementos linguísticos que podemos observar
e que corroboram para a significação, leitura e interpretação da imagem são: as
cores, os comportamentos dos sujeitos, a vestimenta, bem como o local em que
transitam.
Observando
esses elementos linguísticos percebemos que, por meio deles, é possível de
despertar no aluno algum conhecimento crítico referente a temática abordada no
cartum, neste caso a pluralidade de etnias, culturas e religiões presentes em
um mesmo contexto social. Isso é possível de fazer a partir do modo como o
professor irá expor a imagem no contexto sala de aula para o aluno realizar a
leitura dela. Para Amaral
e Fischer a leitura de uma imagem pode ser realizada a partir do nível
representacional, ou seja, aquela em que aspectos da imagem estejam ligados ao
que é real. No entanto, o aluno, diante de uma imagem, pode ir muito além
disso, isto é, pode abstrair outras ideias a partir do que está sendo observado.
Para Amaral e Fischer, o
interessante, ao analisar o texto imagético, é fazer com que o aluno possa
captar significados que estejam para além do que ver. Na figura (01),
observando os elementos linguísticos, podemos realizar a leitura e interpretar associando
o que ver à realidade em que se vive, que no caso seria, a existência, pela
formação do povo brasileiro, de diversos povos em um mesmo espaço. No entanto,
podemos ir para além disso. Ao observar os sujeitos transitando, no mesmo
espaço, com harmonia, levantando a sua bandeira, mostrando sua real face, podemos
falar de temática como o respeito, a diversidade, a tolerância de raça, etnia e
cultura, isto é, indo para além do que podemos ver, do que a imagem nos mostra.
Fazendo isso, o professor contribui sobremaneira para a formação de um sujeito
letrado visualmente e, por conseguinte, capaz de (re) produzir a sua
realidade.
Com isso, conforme aponta
Amaral e Fischer, afirmamos que, no texto imagética, podemos realizar assim
como no texto verbal, leitura nas entrelinhas. Muito embora na Figura (01) seja
possível de realizar tal leitura, no livro Português:
linguagens, 8º ano (2014),
de acordo com a atividade proposta essa leitura não é possível de ser
realizada, tal como podemos perceber na figura (02).
Figura
(02): Imagem da atividade referente ao cartum
Fonte: CEREJA,
William Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens, 8º ano.
8.ed. reform. São Paulo: Atual, 2014. P. 2016.
Em vista disso, na figura
(02), pelo que se observa, a inserção do estudo da imagem no contexto sala de
aula não leva ao aluno a refletir sobre o que está sendo abordado no cartum e,
consequentemente, formando um sujeito não letrado. Isso ocorre em decorrência,
conforme aponta Oliveira em seu artigo intitulado Texto visual e leitura crítica: o dito, o omitido, o sugerido, de
que o letramento ainda se limita ao conceito tradicional de texto. Assim,
segundo a referida autora, a imagem em sala de sala passa a ser aceita como uma
mera representação da realidade, o que impossibilita, por sua vez, ver a imagem
como um texto que deve ser lido, observado e analisada.
Oliveira aponta ainda em
seu artigo que Kress & Van Leeuwen considera a imagem como um texto, posto
que esta também (re)produzem a sociedade, comunicam eventos e estabelecem
interação entre os interlocutores assim como o texto verbal. Dessa maneira, ao se inserir o texto imagético
no contexto sala de aula, o professor deve pensar em toda essa dimensão, haja
vista que o propósito primordial da imagem ao ser inserida em sala de aula é comunicar
e significar eventos, o que não ocorre se o estudo da imagem da figura (01) for
realizado apenas ancorado na atividade proposta e observada na figura (02).
Figura (03): Continuação
da atividade do cartum
Fonte: CEREJA, William Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens, 8º ano. 8.ed. reform. São Paulo: Atual, 2014. P. 2016.
Na figura (03), que, no caso,
é a continuação da atividade, na questão 02, foi elaborada com o mesmo
raciocínio da questão 01 observada na figura (01) em que pede apenas para
identificar o óbvio da imagem. Isso prova que não há preocupação referente ao
ensino de letramento visual, pois o letramento visual está para além disso. O
letramento visual, segundo Oliveira, enxerga o significado como um elemento que
pode ser observado tanto no código linguístico quando no visual, no gestual.
Assim sendo, o texto passa a proporcionar dimensões bem mais significativas, no
que diz respeito ao seu ensino para a aprendizagem deste.
Na questão 03 apresentada
na figura (03) se observa o mesmo. Levanta um ponto interessante, o que diz
respeito a ideologia, mas deixa a desejar pela forma como este ponto é
trabalhado na questão. O professor deve, antes de tudo, fazer um breve
apontamento sobre o que seria a ideologia de um modo geral, para que o aluno
passa vê-la não como é sugerida na questão, mas como um fenômeno presente na
formação discursiva e, consequentemente, no sujeito.
O sujeito se significa a
partir dessas ideologias que se observa em seu discurso e, por conseguinte, em
seu contexto sócio-histórico, posto que elas se formam a partir de seu contexto
e é observada em seu discurso. Em razão disso, ao se falar de ideologia
observando o cartum, podemos falar não só da do sujeito que teve grande
notoriedade pela sua representatividade na revolução em que participou, mas de
um modo geral, elencando a importância da história, da cultura e da etnia para
a formação de ideologia. Assim, essa discussão contribuirá para desmistificar a
ideia de que a ideologia é um fenômeno ruim, que doutrina, tal como é vista até
então na sociedade.
Assim sendo, é possível
despertar um olhar crítica no que diz respeito a essa questão, ao passo que o
aluno passa a compreender o porquê dos sujeitos se comunicarem de um modo
singular, apesar de ocuparam um mesmo espaço. Isso torna importante pelo fato,
segundo Oliveira, da real necessidade de preparar sujeitos cada vez mais
críticos capazes de construir significados que perpassa o denotativo, isto é, o
aluno deve, com isso, perceber, avaliar, observar e concluir quando diante de
um texto quer seja ele imagético ou não.
As questões 4 e 5 ainda
da figura (03) nos leva a percebe que o estudo da imagem se limita ao
denotativo, como já observado nas análises anteriores, posto que não leva ao
aluno a perceber, avaliar e refleti sobre o que se pretende com a temática
abordada no cartum. Está muito centrado no que a imagem mostrar e não no que,
de fato, ela propõe e significa. Nesse sentido, não dando o real sentido do
cartum que é, neste caso, a de fornecer ao leitor diferentes visões da formação
social de um povo. Assim, limitando o leitor a se posicionar criticamente,
porque não houve um estudo que observe a imagem como um texto que significa,
representa e que pode ser lida e interpretada de acordo com a perspectiva de
cada aluno.
Com base no que foi
discutido e analisado, consideramos que é inegável a real necessidade de rever
como o livro didático está propondo o trabalho com a imagem, de modo que
instigue o aluno a pensar e olhar a imagem de uma forma mais autentica e
critica para que, assim, este aluno possa, a partir disso, se posicionar
criticamente, haja vista que o objetivo da escola é formar um sujeito munido de
conhecimento que servirá para este vive e transformar a sua realidade.
REFERÊNCIA
CEREJA, William Roberto, MAGALHÃES, Thereza Cochar. Português: linguagens, 8º ano. 8.ed. reform. São Paulo: Atual, 2014. P. 216.
FERNANDES, J. D. C.; ALMEIDA, D. B. L. Revisitando a Gramática Visual nos Cartazes de Guerra. In: ALMEIDA, D. B. L. (Org.). Perspectivas em AnáliseVisual. 1 ed. João Pessoa: Editora da UFPB, 2008. p. 11-31
OLIVEIRA, Sara. Texto visual e leitura crítica: o dito, o omitido, o sugerido. Acessado em https://redib.org/Record/oai_articulo2503571-texto-visual-e-leitura, no dia 13/09/2022 às 19h.
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