DE QUE FORMA OS MULTILETRAMENTOS SE ENCAIXAM COM A MINHA PESQUISA?
Na minha pesquisa de
mestrado trabalho com perspectiva da Análise do Discurso e Ensino. Nesta
pesquisa busco envolver questões que se ligam à construção da identidade do
sujeito aluno no espaço sala de aula a partir do que é ensinado no livro
didático, tendo em vista que o livro didático é um dos principais recursos
utilizados pelos professores de língua portuguesa, sobretudo, nas escolas
públicas.
Com isso o objetivo
principal da minha pesquisa, em observância ao que é proposto para ensino na
BNCC (2020), é investigar que identidade do aluno se busca (des) construir com
esses discursos, tendo em vista que, sob um determinado discurso, é possível de
se posicionar de diferentes modos a depender da carga ideológica que nele é
colocada em jogo. Esse posicionamento, quando o aluno o é capaz de realiza-lo,
de um certo modo, mostra o quão esse aluno é letrado ou não, uma vez que é
possível de observar se estamos formando sujeitos letrados quando estes
conseguem agir em seu meio social e, consequentemente, (re) produzir a sua
realidade.
Essa compreensão parte do
entendimento de que “ser letrado implica ser capaz de lidar de modo ativo com
textos, inseridos em contextos culturais e sociais” (GOMES, BARBOSA, 2019, p.
7). Isto significa dizer que o aluno, quando letrado, é capaz de ler, refletir
e avaliar criticamente a leitura dentro do contexto o qual se insere. Com isso,
Segundo Gomes et ali (2019), o aluno passa a produzir textos e,
consequentemente, por meio dessa ação, interferir na vida em sociedade. Nesse
sentido, o aluno age e transforma a sua realidade a partir de produções e
leituras de textos.
Dessa forma, tendo essa
compreensão e, também, o entendimento, segundo Kleiman (2005), de que o ato de
letrar envolve atividades diárias com leituras em materiais diversos na medida
em que tais leituras penetram os sentidos do sujeito aluno e, com isso, faz com ele possa participar das práticas
sociais que o envolvem, é que posso dizer que a minha pesquisa se encaixa as
perspectivas de letramentos e multiletramentos, posto que no livro didático é
possível observar o contato constante com a leitura de diferentes textos
multimodais, esses que são trabalhados em sala de aula com objetivos
específicos.
Kresse (2003) aponta que um texto multimodal é resultante de uma ação social.
Dessa maneira, a linguagem que emana de textos presente no livro didático
também é socialmente construída, independemente de seu modo semiótico. Tendo em
vista essa compreensão, podemos dizer que os discursos que perfazem esses
textos podem interferir na (des)construção de identidades, posto que, o
contato com esses textos, podemos ter diferentes tipos de letramentos, tais
como: o digital, visual, literário, linguístico etc. Esses tipos de letramentos,
quando desenvolvidos, percebemos nas práticas sociais que vive o sujeito e até
mesmo dentro do contexto escolar.
Essas práticas sociais,
por sua vez, implicam no modo como identidades são construídas, além de também
influenciar, por meio desses recursos e leituras, que tipo de identidade se é
construída nesse mesmo espaço. Tendo em vista que as identidades, segundo Silva
(2014, p. 30), são providas dos inúmeros significados que nos dão, sendo tais
“significados sociais [...] provocados por diferentes lugares que ocupamos no
meio social”. Desse modo, cada discurso que emana de um texto presente no livro
didático permite (des) construir uma identidade, isso porque a identidade
também é refletida na forma como agimos de forma a transformar, (re) conhecer a
realidade em que se vive. Esse agir é possibilitado pela formação proporcionada
pelas práticas de letramentos desenvolvidos em sala de aula a partir desses
discursos e, por conseguinte, de textos, posto que, como aponta Kleiman (2005),
não existe apenas um método para letrar o sujeito aluno.
Conforme aponta Lemke
(2010) os letramentos são aprendidos pelas relações sociais, essas que são
significadas e elaboradas quando desenvolvidas. Em razão disso, as práticas de
letramentos são analisadas a partir de um contexto e o contexto sala de aula é um
deles. Nessa acepção, segundo Lemke (2010), o letramento está para além de ler
e escrever, pois são habilidades adquiridas nos diferentes espaços em que
circunda o sujeito.
Para Lemke (2010, p. 455), “os letramentos
são, em si mesmos, tecnologias e nos dão as chaves para usar tecnologias mais
amplas”. Isso significa dizer que essas tecnologias estabelecem uma relação
entre o sujeito e a sociedade, isto é, são as que possibilitam os participantes
dessa sociedade agir nela ao mesmo tempo em que também são moldados a partir
desse agir.
Com base nisso, ao se
pensar na construção da identidade do sujeito aluno, se pode pensar também qual
nível de autonomia esse aluno entrou na escola e saiu dela. Ter um olhar para
esse nível de autonomia é olhar para que identidade se (des) construiu ao longo
do percurso escolar e que sujeito se formou ao longo desse percurso, haja vista
que a BNCC (2020) propõe formar jovens de modo integral, isto é, capazes de enfrentar
os desafios sociais e individuais que lhe são expostos.
REFERENCIAS
BRASIL. Ministério da Educação. Base nacional comum curricular. Brasília: MEC/SEB, 2020.
GOMES, Francisco Wellington Borges;
SILVA, Ana Paula de Oliveira.
Multimodalidade e persuasão em uma peça publicitária audiovisual.
Disponível em: www.entrepalavras.ufc..br/revista/index.php/Revista/article/view/1158. Acessado em:
09/10/2022, às 20h.
LEMKE, J. L. Letramento metamidiático: transformando significados e mídias. Campinas, SP: 2010.
KRESS, G. Literacy in the New Media. London: Routledge, 2003.
KLEIMAN, Ângela B.
Preciso “ensinar” letramento? Não basta
ensinar a ler e escreve? Cefiel/
IEL/Unicamp, 2005.
SILVA,
Tomaz Tadeu da. A produção social da
identidade e da diferença. In: Identidade e diferença: A perspectiva dos
Estudos Culturais. 15 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014.
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